Atualmente, em quase todas as cidades brasileiras acontecem manifestações populares, de cunho religioso ou não, seja para festejar uma data importante ou alguém ou alguma coisa. E são justamente essa data, esse alguém ou essa coisa o tema central dessas manifestações, na verdade festas, que muitas vezes passam a fazer parte do calendário turístico das localidades onde são realizadas. Se não, vejamos. O carnaval do Rio de Janeiro, por exemplo, tem como espinha dorsal o desfile das escolas de samba com seus enredos e alegorias; as festas de padroeiro ou padroeira tem como tema central a louvação ao santo ou a santa de referência; o boi-bumbá de Parintins, no Pará, tem como atração a disputa entre duas agremiações de brincantes que representam uma o boi Garantido e a outra o boi Caprichoso, entes do folclore local; os chamados carnavais fora de época da Bahia tem como base a apresentação de bandas musicais que executam as mais variadas vertentes do que hoje se convencionou chamar de "axé-music"; o grande arraial de Campina Grande, na Paraíba, acontece tendo como motivação a nordestinidade, com o seu forró puro e sua culinária regional. E muitos outros exemplos que pululam por todo o Brasil poderiam ainda ser citados.
E o nosso Fortal, que por sinal tem se apresentado mais desanimado a cada ano, é prá festejar o quê? O que motiva os quatro dias dessa folia além do lucro financeiro? Em suas primeiras edições, o Fortal deu a entender que seria mais um evento musical que exploraria o "axé-music", executado sobre e por trios elétricos, à imagem e semelhança do que ocorre em Salvador, na Bahia, aproveitando a onda de sucesso do novo ritmo. Mas com o tempo, o que se viu foi o evento gradualmente perder suas características iniciais inclusive com a inclusão no seu repertório de outros gêneros musicais, com mais destaque aqueles tocados por bandas que se auto-intitulam bandas de forró mas que forró mesmo não tocam é nada. Aí tá dando no que tá dando. Perdendo a sua identidade, o Fortal só tem perdido em animação, glamour e em número de brincantes, até porque, pela própria mudança de atitude dos organizadores, nota-se que o "axé-music", pelo menos aqui no Ceará, já se esgotou.
Ao nosso ver, o grande lapso do Fortal foi ter sido concebido sem nenhuma preocupação com as raízes culturais de nossa região e sua gente. E esse descompromisso com os mais arraigados valores de nossa genuína cultura popular fez com que o Fortal se tornasse uma festa sem alma, onde uma multidão canta (?), grita, dança(?) e pulam no mesmo ritmo e coreografia seja lá o que for que esteja sendo tocado. É triste constatar, mas esse é o Fortal: um evento vazio cheio de gente.
Ivo Dias
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