quinta-feira, 23 de julho de 2009

QUASE UM REPLAY AO VIVO


Que é verdade que prá muita gente o que eu vou comentar aqui e agora soará como uma heresia, ah, isso é. Mas que é verdade também que muitas pessoas tem opinião parecida porém se negam a declará-las, a torná-la pública, ah, isso também é. Mas como quando nós criamos este blog tínhamos em mente, principalmente, abrir na mídia um espaço para a verdade pura e simplesmente, onde as opiniões não tivessem a obrigação de serem unânimes (alguém já disse que toda unanimidade é burra, no que concordo), não vou me furtar a opinar, mesmo ciente da responsabilidade que recai em quem ousa criticar um ícone nacional. Vou me referir ao último show do rei Roberto Carlos. E longe de eu pretender fazer aqui um ensaio crítico. Não por falta de assunto, mas por achar que não é esse o espaço adequado para tal. Mas antes, quem sabe à guisa de deixar claro a inexistência de qualquer ranço de minha parte em relação a RC, seja de natureza musical, política ou outra qualquer, declaro de coração que sou fã e admirador de toda sua abra musical, e que, nas vezes que empunho meu violão, algumas de suas canções sempre fazem parte do meu repertório. Bom, depois desse certificado de imparcialidade, vamos ao que interessa, vamos ao cerne da questão.

Embasado na condição de já ter assistido ao vivo a dois de seus shows e pela televisão a todos eles (alguns até os tenho gravados), me sinto confortável em afirmar que esse último foi mais um que deixou a impressão de "já ter visto esse filme". Daí a pergunta que não quer calar: "E por quê eu insisto em assistir?" Resposta: ora, sinceramente, por ser também um súdito do rei em questão, mas sempre aguardando alguma substancial novidade. Mas, infelizmente, essa é que é a verdade, inadivertidamente ou propositalmente, os shows do Roberto Carlos tem sido muito, muito parecidos. Se não vejamos a seguir.
Roteiro. É ou não é, tão basicamante, o mesmo de sempre? Resumindo, seria mais ou menos assim. A orquestra inicia com a execução de um pout-porri com composições do rei (algumas mudam de show para show), este entra e cumprimenta (com quase as mesmas palavras e com a mesma péssima dicção - ainda bem que ele é cantor, não locutor) a platéia, e se põe a cantar magnificamente o que se propõe a cantar (suas canções) com algumas pequenas mudanças no arranjo do maestro de sempre. E vai cantando e, entre uma ou outra música, arrisca algum comentário tímido, a maioria quase cópia do que já foi dito em outros shows. Como apoteóse, quase sempre outra vez, as participações de Erasmo e Wanderléia (ela sim mudou, prá pior: as pernas e a cintura já não são as mesmas com as quais eu sonhava na adolescência) interpretando velhos, mas inesquecíveis, hits. E para finalizar o espetáculo, mais um ato previsível: a distribuição de rosas brancas e vermelhas para algumas senhoras ávidas de serem notadas por seu ídolo, e que, acho eu, suspiram - esquecidas de que de perto nem mesmo um rei é perfeito - só em pensar que seus companheiros em casa bem que poderiam ser também tão românticos. E são tantas as rosas para distribuir que à certa altura dá a impressão de que o tédio toma conta do ato e a oferenda das última rosas se torna fria e automática sem o beijo ardente que RC depositara nas primeiras.

Cenário. De novo, basicamente o mesmo (houve uma mudança sobe a qual me reportarei mais na frente). Músicos vestidos de branco igualmente ao maestro que, como das outras vezes, e diferente da maioria dos maestros que se apresentam postados num lugar predeterminado, fica passeando pelo palco simulando uma condução que não convence a quem entende um mínimo de música e que só deixa transparecer que está "jogando" mais para a platéia do que para os músicos. E não muda também o piano de calda, que, prá variar, é sempre branco. O microfone, o mesmo modelo girafa que permite ao rei transmitir suas tantas emoções através de seus outros tantos mugangos.

Guarda-roupa. Ou é azul ou branco, conforme o estado de espírito do homem. Só não muda o péssimo corte do seu terno. Com ombreiras por demais largas e armadas, o terno vai se estreitando para amoldar-se a cintura, o que faz a figura do rei da jovem-guarda de longe lembrar um bonequinho da playmobil.

"Prá não dizer que não falei das flores", confesso que houve, sim, no show do maracanã, uma mudança relativamente substancial. Foi no cenário: uma nada original mas enorme tela, onde eram projetadas imagens computadorizadas mescladas com as das diversas fases da vida do astro, foi instalada no fundo do palco, acho eu, no afã de apresentar uma pitada de modernidade. Mas vou aproveitar esse ponto prá fazer uma ressalva: algumas das imagens computadorizadas, mormente as mais iluminadas, muitas vezes atrapalharam a visão que se tinha do cantor, principalmente de quem o assistia pela tv não digital, pois interferia no contorno das imagens e causava um certo encandeamento. Mas aí é um outro assunto...

Mas, de todo modo, foi bom - e é sempre bom - rever o rei agradar seus incontáveis e fiéis súditos com suas melodias que marcaram e marcarão eternamente os corações de todos. Quanto a mim, continuarei esperando novidades nas próximas apresentações do RC. Agora, que depois do show me deu a impressão de ter visto quase um replay ao vivo, ah, isso deu.


Ivo Dias

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